Olá, sou Alberto Lung, escritor. Este é meu blog

Além disso, sou um sentinela em noites insones.

Autor de la Margarita.


Me Ver em Leonard

Imagem produzida por ChatGPT, Sob meu pedido.

Lendo The Marriage Plot, de Jeffrey Eugenides, me senti repetidamente identificado com Leonard. Ele é bipolar, como eu. Mas essa identificação não vem sem desconforto, porque além de ser um personagem complexo e interessante, Leonard é, muitas vezes, um babaca. E isso me assusta.

A cena no metrô é a que mais mexe comigo. Leonard está à beira de um colapso, tentando segurar as rédeas da própria mente. Você sente o pânico, a ansiedade crescendo. Mas o que realmente me atingiu foi como ele se fecha para Madeleine, mesmo ela estando ali do lado. Já passei por isso. Estar ali fisicamente, mas emocionalmente longe. Perdido dentro da minha própria cabeça, sem conseguir me conectar com ninguém.

Eugenides descreve bem essa sensação de caos interno: “There was a tear in Leonard’s mind, like a curtain ripped from top to bottom, and behind it the darkness showed.” (Havia um rasgo na mente de Leonard, como uma cortina rasgada de cima a baixo, e por trás dela a escuridão aparecia). Esse trecho bate fundo. A escuridão de Leonard é minha também. E é esse lado sombrio que, muitas vezes, me faz me afastar dos outros, me trancar num mundo onde acho que ninguém vai me entender.

Eu vejo em Leonard as partes de mim que evito olhar de frente. A amargura, a incapacidade de lidar com as pessoas quando estou mal. Já estive ali, preso no meu próprio drama, achando que ninguém vai me alcançar. E, como Leonard, já fui egoísta sem querer, absorvido na minha dor a ponto de afastar quem só queria me ajudar. É isso que me incomoda tanto ao me identificar com ele. Eu vejo os momentos em que fui difícil de lidar, e dói perceber o impacto que isso pode ter tido nos outros.

O que me assusta de verdade é que, apesar de entender suas lutas, eu também sei que Leonard é um cara difícil de perdoar. Ele comete erros, fere as pessoas, e a bipolaridade não pode ser usada como desculpa para tudo. Da mesma forma, eu sei que minha condição não me isenta da responsabilidade pelos meus atos. Eu também me preocupo com isso—em acabar magoando quem eu amo, mesmo sem intenção.

Na cena do metrô, Leonard está tentando desesperadamente segurar as pontas, mas ao mesmo tempo não permite que Madeleine se aproxime. Eu entendo bem esse conflito entre querer ser compreendido e, ao mesmo tempo, se isolar. Não é fácil deixar que as pessoas entrem nesse caos que, às vezes, parece que vai me engolir.

O Leonard que Eugenides nos dá é incrivelmente real—cheio de falhas, com momentos de profunda empatia e outros de frieza total. Eu me vejo nessa complexidade, e isso me faz questionar: até que ponto eu também afasto as pessoas quando estou mal? Leonard me lembra que, embora a bipolaridade faça parte de quem sou, ela não define completamente o que faço. Eu sou mais do que o meu diagnóstico.

Escrever sobre Leonard é, de certa forma, escrever sobre mim. E, ao explorar essa identificação, me dou conta de que o desconforto de me reconhecer nele também traz uma lição. Sim, eu posso ser difícil de lidar às vezes. Mas isso não significa que eu não possa escolher, a cada momento, como quero tratar as pessoas ao meu redor.


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