Forever Overhead é, sem dúvida, um dos meus contos favoritos de David Foster Wallace. Nele, oescritor transforma um simples salto de trampolim em uma metáfora poderosa para o momento de transição entre a infância e a adolescência. O protagonista, prestes a completar 13 anos, está ali, em pé no trampolim, olhando para a água lá embaixo, hesitando antes de se lançar. O que poderia ser apenas uma tarde comum em uma piscina pública se torna uma experiência carregada de simbolismo, com a pressão de dar o próximo passo na vida.
O trampolim, nessa leitura, é o limiar: entre o que ele conhece (a infância) e o que ainda está por vir (a adolescência, o futuro incerto). A hesitação antes do salto reflete o medo de crescer, de abandonar a segurança da infância e enfrentar o desconhecido. Wallace escreve: “There is something about to happen. There is a choice to make, to jump or not.” Essa escolha, ainda que simples na superfície, ecoa uma decisão maior: seguir em frente na vida, ou não.
A maneira como Wallace dilata o tempo é um dos aspectos mais fascinantes do conto. Ele transforma a espera antes do salto em uma espécie de suspensão temporal, onde o protagonista reflete sobre si mesmo e sobre o que o aguarda. A frase “Everything slows down when you’re this high above the water”, encapsula esse sentimento: o momento parece interminável, cheio de dúvida e autoconsciência.
A narração em segunda pessoa cria uma conexão íntima com o leitor. É quase como se nós também estivéssemos ali, na borda do trampolim, sentindo a pressão do tempo e da expectativa. O garoto está ciente de que algo importante está prestes a acontecer, mas ao mesmo tempo não tem controle total sobre isso. A sensação de estar sendo observado pelos outros na fila, esperando sua vez de pular, adiciona ainda mais tensão ao momento. Como Wallace coloca, “Every eye is on you”.
Essa consciência do corpo, da presença de outras pessoas, reflete a ansiedade de crescer, de ser julgado, de encontrar seu lugar no mundo. Wallace capta esse desconforto com uma precisão quase dolorosa, ao descrever o pensamento do garoto: “It will not be the same anymore. You will feel heavier, bigger, farther from the ground.” O peso da mudança é inevitável, e o garoto sente isso com clareza, mesmo sem conseguir nomear.
Ao final, o salto não é apenas físico, mas simbólico. O mergulho na água é o início de algo novo, uma espécie de batismo, não uso este termo de forma leve, que o transporta para outro estágio da vida. Mas, como Wallace sugere, não há garantias no amadurecimento – é um processo cheio de incertezas, e o salto pode tanto libertar quanto aprisionar. “It’s not like you’ll understand it. Not now. Not ever, maybe.”
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