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Autor de la Margarita.


Matadouro 5: Pulos no Tempo e o Trauma de Guerra

Imagem gerada pelo ChatGPT

Kurt Vonnegut, com Matadouro 5, nos dá uma obra que transcende o tempo linear para nos mergulhar em uma narrativa sobre a guerra, o sofrimento humano e o impacto psicológico devastador que esses eventos podem ter. O protagonista, Billy Pilgrim, é descrito logo no início como “deslocado no tempo” (“unstuck in time”), o que marca o tom fragmentado e surreal de toda a obra. Mais do que um artifício literário, os pulos no tempo que Billy experimenta refletem de forma crua o que chamamos hoje de transtorno de estresse pós-traumático (PTSD).

A guerra fragmenta a mente de Billy. Ele não vive sua vida como uma linha reta; ao invés disso, é lançado de volta aos momentos que marcaram seu ser, especialmente o bombardeio de Dresden, que se torna um loop traumático do qual ele não consegue escapar. É como se, para ele, o tempo estivesse quebrado — assim como sua mente. Vonnegut descreve: “Billy olhou pela janela da nave alienígena. Dresden foi bombardeada de novo”. Aqui, temos o eco interminável do trauma, algo que muitos veteranos de guerra reconhecem: os flashbacks, as memórias intrusivas, a incapacidade de se libertar das cicatrizes mentais que o campo de batalha deixou.

O modo como Vonnegut lida com o tempo não é apenas uma escolha estilística ousada. Ele está nos dizendo algo essencial sobre como o trauma opera. As memórias de Billy são como bombas prestes a explodir, aparecendo sem aviso, desafiando qualquer noção de controle ou continuidade. O personagem está sempre revivendo os momentos mais dolorosos de sua vida, seja no passado, presente ou futuro. O bombardeio de Dresden, com sua destruição inescapável, nunca termina de verdade.

Vonnegut, ele próprio um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, imprime nessa obra uma sensação pessoal de caos e alienação. Os saltos temporais de Billy Pilgrim ilustram a falência do tempo quando confrontado com o trauma, algo que nunca desaparece, apenas retorna, repetidamente.

Assim, os pulos no tempo em Matadouro 5 vão além da ficção científica. São o retrato de uma mente ferida, fragmentada, vivendo em uma espécie de prisão temporal, onde o passado e o presente se misturam de forma dolorosa e incessante.


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