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David Foster Wallace, em seu icônico discurso de formatura ‘This is Water’, nos lembra daquilo que evitamos pensar no dia a dia: a consciência. Para Wallace, estar consciente não é uma dádiva ou uma habilidade que adquirimos sem esforço. Pelo contrário, ele nos desafia a enxergar o mundo de forma consciente, mesmo nos momentos mais banais e tediosos da vida.
O verdadeiro valor de uma educação, ele sugere, não está apenas em ganhar conhecimento técnico, mas em adquirir a capacidade de escolher o que pensar. E é aqui que a proposta de Wallace se torna quase angustiante, mas ao mesmo tempo libertadora. Ele nos coloca diante da possibilidade – ou da obrigação – de escolher como reagir ao tédio, ao estresse e à rotina. O piloto automático, ele afirma, é o caminho mais fácil. Mas a vida no piloto automático nos impede de enxergar o outro, de ver além do nosso ego.
Wallace descreve cenas cotidianas que, a princípio, parecem triviais. O trânsito, as filas intermináveis no supermercado, a falta de paciência com aqueles ao nosso redor. Mas é exatamente nessas situações que ele nos desafia a exercitar a consciência, a fazer o esforço de ver o mundo pelos olhos do outro. Isso, segundo ele, é a verdadeira educação.
Mas será que isso é possível o tempo todo? Wallace reconhece o peso desse desafio. Estar consciente do outro, de suas dores e de seus mundos internos, não é uma tarefa leve. E, na era em que vivemos, onde o imediatismo e a distração parecem nos engolir, o convite à consciência parece ser quase revolucionário.
A grande sacada do discurso não é apenas nos lembrar de “sermos bons uns com os outros”. Isso seria simples demais. Wallace quer que sejamos radicais em nossa percepção, que saiamos do piloto automático mesmo quando isso nos machuca, nos esgota, nos desafia.
Ao refletir sobre ‘This is Water’, a sensação que fica é a de que viver de maneira consciente é uma prática constante e deliberada. É uma escolha que fazemos todos os dias, mesmo que o mundo ao nosso redor pareça conspirar para nos levar ao contrário. Wallace não nos dá uma resposta fácil, mas ele nos oferece uma provocação poderosa: e se, por um momento, parássemos de viver como se fôssemos o centro do universo? E se, ao invés de reagirmos instintivamente, escolhessemos agir com compaixão e empatia?
Talvez essa seja a lição mais dura e, ao mesmo tempo, mais libertadora de todas.